Claude Kerven faz parte
da diretoria do Department of Filmmaking na New York Film Academy. Já dirigiu mais de 25
curtas para o Saturday Night Live. Foi diretor do
Afterschool Specials, Birthday Boy, Candy Store, e do David Brenner Show. Além disso, foi
co-roteirista do filme Pensamentos Mortais com Bruce Willis, Demi Moore e
Harvey Keitel.
Em
2012 O Poderoso Chefão completou 40 anos. Não sei se você assistiu mas o canal
AMC o exibiu várias vezes durante a semana de seu aniversário. E assistir a
trilogia novamente, me fez pensar...
O
que aconteceu com Francis Ford Coppola?
O
Poderoso Chefão foi uma influência gigantesca. Quer dizer,
todo mundo foi ver. Eu me lembro de ter um amigo que trabalhava em um cinema e
dava um jeito de me colocar pra dentro sorrateiramente pra assisti-lo. Não
importava que parte do filme que eu pegava, sempre assistia até o final. Às
vezes eu até ficava para assistir ao início da próxima exibição. Costumávamos
nos referir à ele como “A Fera”. Era como demonstrávamos o respeito que
sentíamos por ele. Alguns anos mais tarde, como um estudante de cinema, Scorsese
se tornou o meu cara (ele foi o cineasta que me fez querer ser um cineasta). O Poderoso Chefão ainda era o ponto de
referência e com todo o respeito e deferência ao bom e velho Marty, ele nunca
fez "A Fera".
Coppola seguiu com Apocalypse
Now. As histórias sobre a produção desse filme são lendárias - a enorme
quantidade de dinheiro, equipamentos e insanidade que se passava nas selvas.
Mas você gostando do filme ou não, é impossível não ficar impressionado com a
grandiosidade da abordagem e da execução. É, sem dúvida, o trabalho de um
mestre do cinema. Mas aí... O que? O que aconteceu? Ele nunca mais cumpriu a
promessa de seus primeiros filmes. Isso me deixa triste. O que deu errado? Onde
é que Francis Ford Coppola perdeu a mão?
Tudo começou com um filme chamado O
Fundo do Coração. Você provavelmente nunca viu. Poucas pessoas viram.
Era uma fantasia musical situada em Las Vegas, e mesmo tendo sido pioneiro de
algumas técnicas de edição de vídeo, foi um desastre com o público. Em seguida,
houve Vidas Sem Rumo e O Selvagem da Motocicleta. Aos
diretores jovens como nós, parecia o trabalho de um cineasta desesperado que
havia perdido seu público e estava tentando de tudo para se conectar com um
novo. Em seguida, ele tentou uma imitação de O Poderoso Chefão, Cotton
Club. Um drama épico sobre o crime, que tinha até o mesmo tipo de
montagem violenta no final. Uma imitação pálida e outro desastre de bilheteria.
E, finalmente, O Poderoso Chefão 3,
o último esforço para recuperar a glória do passado. Eu nem preciso dizer a
decepção que o filme se tornou.
Como um cineasta tão promissor se perdeu no caminho? Seria a perda
decepcionante da Zoetrope Studios? Em 1969, Coppola decidiu ir contra o sistema
de estúdio, que ele sentia limitar sua visão artística. Criou então a Zoetrope
para financiar longas de diretores de primeira viagem. Não funcionou. Foi a
pressão de pagar a enorme dívida financeira em que se encontrava? Coppola
declarou falência três vezes. Não é fácil se agarrar a uma visão pessoal enquanto
tenta sair de um buraco financeiro. Ou foi a trágica morte de seu filho?
Tragédias pessoais encontram uma forma de colocar as ambições de glória em
perspectiva. No final, talvez fosse apenas a pressão inimaginável de produzir
algo que se igualasse ao grande O
Poderoso Chefão.
É difícil não refletir sobre a trajetória um tanto trágica de sua vida. O
sucesso inicial tem suas armadilhas. Compare as carreiras de diretores como
Spielberg e Scorsese. Começaram praticamente ao mesmo tempo. Eles faziam parte
de um grupo de vanguarda de cineastas que foram revolucionando Hollywood. Mas
onde Spielberg e Scorsese são viáveis, influentes, premiados pela Academia,
Francis Ford Coppola, infelizmente, desapareceu de cena. Posso facilmente
imaginá-lo repleto de uma profunda satisfação e apreço por aquilo que realizou.
Eu também posso imaginá-lo com profundo pesar pelo que poderia ter feito.
Finalmente, eu gostaria de pensar que, com a idade vem a perspectiva, até mesmo
sabedoria, e talvez a aceitação. O que você acha? Todo cineasta acaba se
deparando em algum momento da vida com essa questão da arte e do comércio. Como
você teria lidado com isso? Ou como você imagina lidar com isso? Eu gostaria de
saber.
Posted by
Alexandre Luiz